O conflito e genocídio de Ruanda: desconsertando a perspectiva hegeliana
"(...) A história do mundo não é o teatro da felicidade; os períodos de felicidade são páginas em branco, porque são períodos de harmonia (...)"
"A África não tem história".
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. A Razão na História: Introdução à Filosofia da História Universal. Lisboa: Edições 70, 1995.
De fato, Hegel declarava-se o primogênito da razão universal. No entanto, a idéia de universalidade na produção hegeliana será posta em relevo por uma análise consistente. Grifemos da citação os termos: "teatro da felicidade", "páginas em branco" e "períodos de harmonia".
A vastidão do continente africano e suas inúmeras produções sócio-culturais não encontra-se no bojo da universalidade hegeliana. A extensão territorial deste "palco teatral" hegeliano reserva-se a estupidez e ao cinismo do "filho da Razão".
Neste presente exame, "o palco teatral" apresenta a peça chamada "Genocídio de Ruanda", protagonizada por autores tutsis e hutus, incluindo a participação de coadjuvantes da ONU, e direção da tutela belga.
No que diz respeito ao enredo do espetáculo, o público dispensa o típico saudosismo para prostar-se diante de inigualável horror. Decerto, este público não definiu-o como "teatro da felicidade". Porém, nunca foi perceptível a insólitas "páginas em branco". Quem é este público? o século XXI.
Hegel pertenceu ao mesmo solo dos belgas inflamados pela consciência vil, que por sua vez, realçou praticamente a "ausência de história na África".
"Ora! (instou a direção belga) então daremos uma história à eles. Construir-la-emos com nossos nobres e dignos anseios, pois é o que promovemos com maior destreza e esmero: disseminar a civilização e a razão, nunca antes vislumbrada pelas bestas desamparadas..."
E a História oferecida pela direção belga não proporcionou a "felicidade" para o seu público universal? Evidentemente! lembremos que o "universal" hegeliano não abarca a área dos atores principais: Ruanda e toda África.
A peça logrou um sucesso inestimável! sucesso este confirmado pelo público "universal" que divertiu-se com explosivas gargalhadas e ovações. Por fim, agradou-os satisfatoriamente.
E qual seria a razão do sucesso e satisfação do público "universal"? a "felicidade" proporcionada pela direção belga. Mas seria possível encontrar alguma "página em branco" num espetáculo certamente impecável? obviamente que não, pois a dedicada direção belga abusou de sua astúcia ao preenchê-las minuciosamente, cena por cena:
1. Assassinato do presidente Halyasimana;
2. Reação do Poder Hutu;
3. Massacres de tutsis na capital Kigali;
4. Aproximadamente 8oo mil corpos jazidos.
o grand finalé contagiou o público com o fechamento das cortinas acompanhada da "harmonia" hegeliana...
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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