segunda-feira, 9 de março de 2009

Jesus, o primeiro socialista?

Em algumas ocasiões presenciei em diálogos, mesmo que despretensiosos, comparações toscas a respeito de uma "venturosa" conduta socialista de Jesus Cristo.
As mais significativas passagens bíblicas que denotam possíveis características da participação e atuação do homem em uma sociedade socialista são argumentos típicos utilizados pelos cristãos que acreditam ser Jesus um socialista: o compartilhamento da seia, a multiplicação do alimento para consumo coletivo, e até mesmo o ato de transformar água em vinho.
Sempre desejei contribuir para a discussão com algumas linhas que evidenciam claramente minha opinião.
Se partíssemos do pressuposto dessas ações, nada mais que nítidos anseios proféticos, sem ao menos examiná-las em paralelo com a prática social e revolucionária do socialismo, poderíamos estar no mínimo equivocados. Sumariei alguns pontos dos mais aludidos:
1. O ímpeto subversivo de Jesus
2. Pregação disseminadora da liberdade judaica e o rompimento das relações sócio-políticas, sobretudo, coação religiosa imposta pelos romanos.
3. Partilha de bens alimentícios
4. Dedicação ao usufruto coletivo
Superficialmente, Jesus tomou partido de algumas práticas de cunho socialista. No entanto, discursos substancialmente sentimentais não correspondem em sua plenitude às atuações de um revolucionário ou mesmo um entusiasta socialista. De fato, suas decisões e ações giravam em torno de sua paixão pela liberdade e dignidade da doutrina judaica, então agrilhoada pelo governo imperial. Mas a cerne de sua preconização nunca se igualou aos preceitos práticos e objetivos do socialismo. Coloco desta forma em contraste à enumeração acima:
1. A subversidade encontrada em Jesus foi apenas o motor de sua fé intempestiva. Seus princípios meramente subjetivos destinavam-se apenas à força da fé e ao comportamento que dela derivava.
2. A pregação profética de Jesus, em si, deu-se como antítese clara da cartilha socialista. Jesus sonhava com a libertação do povo judaico, instilando sentimentos pueris como solidariedade, amor, tolerância e etc. Em contrapartida, parafraseando Marx, o "homem materialista" (socialista) basea-se nas idéias primordiais de emancipação: o advento do trabalho real e inexplorável e a socialização dos meios de produção. É plausível afirmar que a concretização dessas práticas sociais estimula coletivamente os sentimentos aspirados por Jesus. Mas ele incumbiu-se de prognosticar a emancipação disseminando sentimentos, acreditando que estes transformariam concretamente a realidade então vigente.
3. A partilha de bens não implica inteiramente numa conduta socialista. A divisão de víveres promovida por Jesus foram incitadas, principalmente, pela solidariedade. Ser solidário não é ser socialista. Um empresário, gozando de sua condição ardil de proprietário de capital e explorador de trabalho alienado, pode ser solidário assim como um operário carente. A solidariedade e o "amor ao próximo" satisfaz necessidades básicas e alimenta o espírito dos cristãos, mas jamais teria o teor instrumental do socialismo. o socialista pode ser solidário, mas além disso, é revolucionário. A solidariedade pode curar uma ferida, mas não evitará outra.
4. Assim como a solidariedade, a dedicação de Jesus ao usufruto coletivo não sedimentou as bases práticas e necessárias para a emancipação judaica.
Em suma, Jesus proporcionou aos brios dos judeus a esperança de regozijar a vontade do "Pai Eterno": ser bom na terra, para gozar os frutos da bondade no céu. No entanto, a bondade terrena jamais ladeou o pragmatismo de uma revolução socialista ou de um líder que estivesse munido de estalá-la.

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