quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O caso UNIBAN - Educação em xeque

Não há um nobre cidadão brasileiro que não comente nas ruas o destempero de centenas de estudantes universitários de uma universidade privada paulista chamada UNIBAN.
Não pretendo me deter numa narrativa que exponha factualmente o abominável caso, mas proponho examinarmos os dispositivos essenciais que o deflagrou.
O que moveria uma turba enfurecida de universitários a bombardear uma simples estudante com insultos de cunho notadamente moral? Em suma, o que a moral está fazendo encarnada num corpo tão esquisito à seus olhos? Os valores morais correntes da sociedade teriam similitudes no universo acadêmico e nos seus valores derivados?
Basta vermos de perto o "substrato moral" que predomina não somente na universidade, mas primordialmente, nos parâmetros educacionais pertencentes a superestrutura ideológica das classes dominantes: a "moral burguesa".
Atravessamos décadas e décadas na esteira do ideal de progresso capitalista, e o que os arautos bíblicos da cúpula dominante nos prega é o sucesso, o êxito, a grandeza como resultados diretos da especialização, da profissionalização, ou seja, da distinção social do indivíduo nas relações de produção de valor, isto é, de capital e riqueza.
Para criar sua massa disponível de trabalhadores cada vez mais capacitados e qualificados para as inovações tecnológicas que florescem a produção, as classes dominantes estão investindo massivamente seus capitais em ação conjunta com o governo para a instrumentalização da força humana cada vez mais jovem no mercado.
as chamadas ONG's sem fins lucrativos, estão fundindo associações de grandes empresas com o objetivo de criar mecanismos de gestão nas redes públicas de ensino e financiar, terceirizadamente, os recursos necessários para o pleno funcionamento das escolas precarizadas pelo governo. Dessa forma, todo o conteúdo programático do ensino público... (breve pausa para uma reflexão: público é uma palavra do latim que significa "de todos", ou melhor, "para todos"... retomando) será gradativamente cooptado pelas necessidades funcionais da propriedade capitalista investidora e suas demandas técnicas.
Nesse sentido, as classes dominantes que assim são pela exploração de trabalho no modo de produção capitalista, também assumirão o papel de CLASSE DIRIGENTE da sociedade, marcadamente pela sua postura julgadora da direção ideológica-educacional nas instituições de ensino, expropriadoras do patrimônio público reservando este espaço a seus interesses privados, e introjetando nestes espaços acadêmicos os padrões práticos do trabalho assalariado (indivíduos uniformizados, conceito alienado de tempo útil=produtivo, repressão de indivíduos elevados na divisão de trabalho). Onde está as livres faculdades intelectuais do ser para pensar a natureza na ciência? como pensar a transformação das diversas sociedades e suas culturas na história e nas ciências humanas? Onde estará o condicionamento geral da sociedade para o desenvolvimento omnilateral do pensamento e da crítica?
Em tese, no avanço progressivo da fusão público-privado nos meios de transformação da realidade que operam na educação, no livre pensamento e na crítica, e na expansão da "moral burguesa" de "ascensão na vida" proferido aos jovens, sobretudo de classe média, como única direção aceitável para tornar-se o verdadeiro cidadão (evidentemente fabricado) é que podemos contextualizar o caso UNIBAN.
Afinal, a estudante na estaria usando trajes inadequados para uma universidade, assim como a "moral burguesa" no ensina a proceder em ambientes "éticos" como o trabalho?

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